Entrevista com Josemar Oliveira, artista plástico, grafiteiro e empreendedor

Por Welber Santiago

Josemar Santos Oliveira, nascido e criado em Salvador, tem 23 anos e muitos sonhos. Desde moleque, Sagat, como gosta de ser chamado, demonstrava amor pelos desenhos e, observando os mais velhos, desenvolveu seu maior talento. O garoto de origem humilde, filho de sapateiro e dona de casa, se tornou um jovem artista plástico, escultor e grafiteiro, que cresceu rabiscando nos cadernos em sala de aula.

Também está em suas veias, herdado de seu pai José Mário, a tendência ao empreendedorismo. Josemar é dono da grife Sagaz, sua residência é o seu ateliê, onde produz matérias de artesanato como esculturas em polietileno, quadro pintados com aquarela, camisas e moletons trabalhados em silk-screen.

Em 2010, participou do Projeto Cultural chamado “Manos do Bem”, no qual exercia a função de MC, quando viveu sua primeira experiência com a gravação e lançamento do CD “Arte e prevenção na luta contra a Aids", produzido com sua participação. Muito além do contexto das artes visuais, Josemar é fundador do selo Fábrica de Rimas juntamente com o Welber Santiago, seu grande amigo e incentivador, onde executam o projeto cultural “Sarau de Rimas da Fabrica de Rimas’’, com o intento de fomentar a cultura hip-hop em sua comunidade.

De onde vieram os incentivos para que se tornasse um artista plástico?

JO - Desde sete anos de idade eu já desenhava em papéis em casa e nos cadernos em sala de aula em vez de prestar atenção na aula (risos). Ao longo do tempo fui desenvolvendo meus trabalhos. Aos treze anos minha tia me matriculou no curso de artes plásticas para adolescentes, sabendo que meus pais não tinham condição para investir nos materiais. Depois aos dezoito anos ela também me matriculou no curso de Desenho de Observação no ICBIE (Instituto de Cultura Brasil Itália Europa) para aprender mais sobre sombreamento, desenho de observação e perspectiva, o que me ajudou em algo que eu tinha potencial, só não sabia como desenvolver, por conta do acesso que não tinha a alguns materiais.

Como chegou o grafite na sua vida?

JO - Conheci o grafite há um algum tempo, mas nunca tive uma relação de estar trabalhando na área por conta do acesso ao material e dos valores também. Em 2008, conheci a Crew Nova10Ordem , que alguns dos melhores grafiteiros de Salvador participam, acabei me entrosando com eles. Os que conheci primeiro foi Bigod, Júlio e Prisk. Assim comecei a participar de mutirões quando estava integrado no Teatro da Piccola Cia di Teatro ICBIE. Depois me convidaram para fazer alguns trabalhos com eles, acabei entrando realmente na área, viajei para fazer trabalhos para prefeitura de São Francisco do Conde, mutirões em Poções, Feira de Santana, Coração de Maria, entre outros. Até hoje continuo.
Quem são as suas referências na música e nas artes visuais? 

JO - Tenho poucas referências na verdade, anteriormente não tinha muito acesso aos materiais, nem a outros trabalhos, mas já ouvia falar de alguns pintores renomados da história. Já pensei em me basear em alguns, mas nunca tentei, então atualmente tenho referências mais no grafite do que em trabalhos artísticos. Mas com ajuda da internet tenho bastante acesso a outros trabalhos para aprender novas técnicas, como MC, que já está na área há um tempo, Dj Bandido, Mc Sardinha, Samuel, Marechal, Black Alien, Criolo, Thaíde, Emicida, entre outros.

Em sua opinião, qual o melhor trabalho feito por você? Alguma obra já lhe causou algum impacto?

JO - O melhor trabalho para mim, em relação às artes plásticas, é um quadro que intitulo “O Peso da Vida”. Só em olhar dá pra relatar algo bastante forte. Em relação ao grafite, o que mais gostei foi o que fiz na minha comunidade há pouco tempo com um amigo do Paraná Gardenal. O que me causou mais impacto foi o que fiz no mutirão de Cajazeiras 7, que passa uma ideia de vermos o que tem por dentro, “todos iguais independente do visual”.

Sabemos que o segmento de artes plásticas no Brasil é de difícil ascensão. Como foi pra você essa trajetória da invisibilidade até a notoriedade conquistada?

JO - Além de ser difícil o trabalho de artista plástico no Brasil, eu no momento acredito que não sou notório. Ainda tenho muito que desenvolver e divulgar bastante meu trabalho. É o que eu espero acontecer, estou treinando bastante para isso.

Porque alguns artistas brasileiros da arte de rua tendem a obter reconhecimento pelo trabalho artístico primeiramente no Exterior?

JO - Na minha opinião há vários trabalhos maravilhosos que vários artistas no Brasil fazem. Mas o que impede a visibilidade é que muitas pessoas ainda não dão grande valor ao artista como merecido. Já no Exterior é totalmente diferente. O que muitos têm demais lá, alguns possuem pouco aqui, principalmente, o patrocínio que ajuda bastante ao artista desenvolver e divulgar seus trabalhos. Como os materiais aqui são bastante caros e muitas pessoas que pedem que seja feito tal trabalho não acham que o valor cobrado seja devido. Lá fora os materiais são duas, três vezes mais baratos que aqui e ainda os artistas têm grande patrocínio para desenvolver seus trabalhos.

Como você se vê hoje?

JO - Atualmente, eu me vejo como um artista que se procura no meio de vários trabalhos. Gosto de fazer várias coisas e quero ser reconhecido em bons trabalhos, por isso não me prendo em uma só técnica ou em um só trabalho. Desenvolvo outras técnicas como escultura, grafite, camisas, quadros, poesias, músicas, entre outros.


Fotografia: Urbano Neto

2 Comentários

  1. Tem talento e humildade, dons básicos de um grande ser humano.

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  2. Conheci Jo no trabalho, logo percebi que ele é um cara diferente dos outros meninos,respeitador e tal, aprendi a gostar e admirar a pessoa que ele é! Sabia que ele trabalhava com o lado carente da população, mas não conhecia esse menino super admirado e dedicado no seu ambiente. Estou vibrando por vc JO.

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