Entrevista: "Estávamos atordoados. O negócio é aceitar e ficar tranquilo", diz Matheus Henrique

 Baiano vai à Bolívia estudar medicina e tem estudos interrompidos devido à pandemia.


Foto: Divulgação


Por Vagner Ferreira


Jovem, de 20 anos, recém-formado no ensino médio e nascido na cidade de Presidente Tancredo Neves, o baiano Matheus Henrique aguardava ansiosamente pelo ano de 2020. As expectativas eram grandes. Ele adquiriria independência: morar sozinho em outro país, na Bolívia; ingressar no curso de Medicina; conhecer novos hábitos e novas pessoas. Porém, mal sabia o que estava por vim. Devido à pandemia do novo coronavírus, a nível mundial, ele teve os estudos interrompidos e passa grande parte dos dias em casa, sem contato com outras pessoas.

Matheus, por que escolheu fazer Medicina na Bolívia ao invés do Brasil, e quais expectativas foram criadas para essa sua nova fase?

Primeiro, tive uma visão financeira. Pensei na facilidade em que teria para pagar a faculdade e aqui é muito mais em conta. Segundo, tive outra visão de mundo. Aqui a burocracia para você estudar Medicina, um corpo, por exemplo, é bem menor.

Então é uma universidade privada. Qual a forma de inclusão realizada pelo centro acadêmico para os emigrantes brasileiros?

Sim, é uma universidade privada, a Universidade Cristã da Bolívia (Ucebol). Ela é patenteada pelo Mercosul e por essa questão acolhe bastantes emigrantes brasileiro. É voltada para a medicina em geral, além de ser uma das que mais aprovam no Sistema de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida).

Como foi à acomodação no país, o contato com as pessoas e os primeiros dias no curso?

Os primeiros dias aqui foram um pouco difíceis, um pouco duro. Tive que está atrás das coisas que faltavam, como documentação. Para me comunicar, alguns dos meus amigos brasileiros tinham que falar por mim. Eu sabia um pouco do espanhol, mas ainda não a ponto de falar. Entretanto, as pessoas são bem receptíveis. Elas nos abraçam de uma forma que nos faz se sentir em casa, se sentir como amigos. Assemelha a uma relação de amizade como a daí do Brasil, entendeu? Esses fatores refletiram nos primeiros dias de curso. Contudo, boa parte dos estudantes aqui também são do Brasil. Os professores e mestres se esforçam bastante para falar o mais claro possível.

E quando soube que teria que aderir ao isolamento social, quais as principais mudanças e adaptações?

Foi horrível. O cenário ficou deserto. Estávamos atordoados. A falta de contato com o mundo externo deixou a gente ainda mais solitário. E ficávamos na esperança de que tudo ia voltar, mas nunca voltava. Era eu e um amigo a ponto de ficarmos loucos. Tivemos que nos adaptar. E fomos aceitando. O negócio é aceitar e ficar tranquilo.

Quais principais medidas adotadas pela Bolívia devido à pandemia?

Foi adotado o isolamento total. Não podíamos sair de casa. Fecharam-se centros maiores que cercava grandes aglomerações de pessoas. Caso afligisse as regras, era prisão ou multa. Outra medida foi à saída conforme o final do número da identidade. Caso terminasse com um ou dois, saía na segunda. Caso terminasse com três ou quatro, na terça. E assim sucessivamente, com resguardo aos finais de semana. Essa norma está sendo válida para identidades bolivianas e eu só tinha a brasileira ainda. Então, foi muito difícil sair, e ainda mais para tomar um vento. No dia 13 de maio, fizemos dois meses preso. Em resumo, não houve festas. A The International Criminal Police Organization (Interpol) pegava todo mundo que estava contra a lei.

E sua família aqui no Brasil, o que diz?

No geral, não sei. Quem mais me apoia é minha mãe. Antes ela dizia que eu tinha que vim mesmo, tinha que conquistar os meus sonhos e que, independentemente de qualquer situação, ela iria me apoiar sempre.

Você teve algum medo ou se arrependeu em algum momento? Pensou em voltar ao Brasil, mas foi impedido pela pandemia?

Na verdade, só tive medo no início. Quando eu cheguei aqui, não acreditava, sabe? A ficha não caía. E não, não pensei em voltar ao Brasil. Eu não penso em voltar, estou bem aqui. É uma vida nova. Já estou até namorando. Claro, impedido de ver a minha namorada. Mas é isso, você tem que se adaptar.

O que planeja para o pós-pandemia?

Planejo sair daqui, dar umas voltas pela cidade sem destino, respirar um pouco de ar puro. Quero ser um pouco livre dessas paredes (risos).

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