O ensino fundamental brasileiro e suas falhas na construção social

Por Iasmim Moreira

Foto: Palavra de Preta/WordPress


Há questionamentos a serem levantados quando se trata de educação fundamental no Brasil. De acordo com a pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua realizada em 2019, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país carrega uma taxa de analfabetismo de 6,8%, que equivale a 11,3 milhões de pessoas que não sabem ler ou escrever o básico da língua mãe.


“O que esperar de um país no qual, nem o ensino básico é para todos?”, é o que questiona a pedagoga Tárcila Pio, licenciada pela Universidade Católica de Salvador e graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Atualmente, ela leciona em escolas da rede municipal de Salvador e, dentro do ensino considerado “convencional”, aplica técnicas de descolonização cultural nos conteúdos nos quais ensina.


“É importante pensar em uma escola decolonial na perspectiva ascendente. Temos o péssimo hábito de dizer que somos descendentes, quando, na verdade, nós subimos, nós somos continuidade de que quem foram os nossos ancestrais. A educação para formar um cidadão consciente está muito mais ligada a entender o legado, o pensamento e as ideologias das pessoas que vieram antes da gente”, afirma.


Para Tárcila, a educação alternativa aplicada por educadores nas escolas convencionais, é uma válvula de escape para o sistema educacional. “Existem linhas de ensino que tentam fugir deste tradicional mas, no final das contas, é apenas uma maneira de normatizar os processos de aprendizagem”, aponta.


A educadora ainda acrescenta sobre as “propostas de educação alternativa” ficarem apenas “no papel”. “É importante entender que educação alternativa dentro do nosso histórico, é meramente teórica. Ainda somos escravizados por uma mecânica que gira em torno do capitalismo, de um lucro. No papel, nossas leis de direitos básicos são excelentes, mas na realidade há uma discrepância social muito grande”, ressalta.


A iniciativa de criar dinâmicas diferentes de ensino, em sua maioria, parte dos professores. As técnicas inovadoras podem provocar um estímulo nos alunos, que aprendem para além do que é apresentado nos livros ou na sala de aula. Isso aconteceu com João Sampaio, 13, aluno do 7° ano do ensino fundamental II, na Escola Comendador Bernardo Martins Catharino, Serviço Social da Indústria (Sesi Itapagipe).


João, que se considera mais próximo das matérias de exatas, encontrou interesse maior pela matéria de história quando seu professor, Iran Souza, aplicou um método diferente de praticar o assunto dado em sala de aula. “O jeito que ele achou para nós, alunos do sétimo ano, pesquisarmos sobre monumentos Históricos me deixou maravilhado. Ele usou um jogo chamado Minecraft e nos disse "vocês vão construir os monumentos que vocês pesquisarem e irão fazer uma apresentação sobre eles”, conta.


Educação democrática


Contudo, como cita Tárcila no início desta reportagem, se nem mesmo a educação convencional é para todos, porque a alternativa seria?. Em Salvador, há projetos e instituições dedicadas a democratização deste tipo de ensino, como a Universidade da Reconstrução Ancestral Amorosa (Uniraam), do grupo de Cultura Boiada Multicor.


A unidade educativa popular, situada no Pelourinho, é composta por indivíduos de diversas procedências ou instâncias da sociedade. De forma aberta e gratuita, o principal objetivo deste espaço é a reeducação crítica sobre as ações racistas, machistas, agressivas com os elementos da natureza. A base do ensino é voltada às questões raciais.


Entre as ações pedagógicas estão contações de histórias infantis/juvenis com livros do professor Jorge Conceição que escreve sobre conteúdos que buscam a superação do racismo. Antes da pandemia, na sede da instituição também aconteciam cursos, palestras, vivências em locais ecológicos, rodas de leituras, conversas e debates sobre o racismo, desordens na saúde do afrodescendente, cinema e cineclubismo, educação pluriétnica e saúde integral. Entre outros assuntos.


Em Itapuã, existe a Escola Bacuri Jatobá, adepta do princípio pedagógico Waldorf - abordagem pedagógica baseada na filosofia da educação do filósofo austríaco Rudolf Steiner. A proposta é desenvolver o físico, o espiritual, o intelectual e o artístico dos alunos, para formar indivíduos livres, integrados, socialmente competentes e moralmente responsáveis.

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